Imagem original
A escultura de madeira encontrada por Plácido, no ano de 1700, é considerada a imagem “original” de Nossa Senhora de Nazaré. Com 28 cm de altura, ela tem estilo Barroco, apresenta traços de uma senhora portuguesa e já foi reformada três vezes, sendo que a primeira restauração, realizada em Portugal, no ano de 1774, é o marco do primeiro Círio. Na ocasião do retorno da imagem a Belém, fiéis formaram uma procissão para acompanhar a imagem do porto até a ermida, no arraial de Nazaré, acompanhados por autoridades civis e eclesiásticas.
Em 1953, durante a realização do VI Congresso Eucarístico Nacional, em Belém, por determinação do Papa Pio XII, a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré recebeu um manto de cetim e uma coroa pontifícia, ambos trabalhados com fios de ouro e pedras preciosas. Essa foi a primeira vez que a imagem saiu da Basílica desde sua trasladação da antiga matriz para o interior do templo, em 1920. Depois, saiu apenas em 1980, quando da visita do Papa João Paulo II a Belém, e em 1993, para as comemorações do bicentenário do Círio.
FOTO: Gillhermo Alcorta | Panrotas
Imagem peregrina
Em 1968, atendendo a pedidos dos fieis, que alegavam ser a imagem do Colégio Gentil bastante diferente da imagem original, o então Pároco de Nazaré, Padre Luciano Brambilla, encomendou uma réplica para utilização em procissões e cerimônias oficiais. A tarefa, que contou com a ajuda da senhora Mizar Bonna, ficou a cargo do escultor italiano Giacomo Mussner. Para garantir a fidedignidade do trabalho, Giacomo recebeu uma série de fotos da imagem original, além de suas medidas exatas, acompanhadas de uma importante recomendação: o rosto de Maria deveria ter a feição das mulheres amazônicas e o Menino Jesus, a aparência de uma criança indígena.
O escultor foi fiel às cores e detalhes da pintura. A principal diferença está no burel, a manta que cobre o Menino Jesus, cujos detalhes são em ouro, e não em prata, como na imagem original. A imagem peregrina passou a ser utilizada na procissão do Círio em 1969. Devido ao antigo costume antigo da imagem retornar para a capela do Colégio Gentil após a festa, alguns pensam que é lá que ela permanece ao longo do ano, mas na realidade, a imagem peregrina fica exposta na sacristia da Basílica.
FOTO: Facebook Basílica
Berlinda
A berlinda é uma caixa confeccionada de vidro e madeira, onde a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é transportada durante a procissão. Originalmente, ela era conduzida em um palanquim, uma espécie de liteira fechada, presa a um varal levado no ombro por quatro ou seis homens. Em 1882, por sugestão do Bispo Dom Macêdo Costa, a berlinda passou a ser usada para o transporte da imagem.
A berlinda atual é a quinta da história. Confeccionada em 1964, pelo escultor João Pinto, é de cedro vermelho e tem estilo barroco. Seguindo a tradição, ela é ornamentada com flores naturais, sendo utilizada no Círio e na trasladação. Em 2012, a berlinda passou por uma reestruturação, recebendo uma cobertura de folhas de ouro. A reforma inclui a implantação de um moderno sistema de iluminação em fibra ótica, com luz branca no interior, representando a paz e a pureza de Nossa Senhora, e amarela na parte exterior, realçando os detalhes de sua estrutura.
Manto
O manto que envolve a figura de Nossa Senhora de Nazaré é um dos mais importantes símbolos do Círio e sua confecção é cercada de mistério. Com conotação mística, que relata partes do evangelho, todos os anos as bordadeiras usam os mais belos e nobres materiais para confeccionar um novo manto que será usado por Nazinha durante o Círio. Poucas pessoas até hoje puderam vivenciar o ritual de tecelagem do manto, que é feito com a ajuda de doações, quase sempre anônimas.
O trabalho de confecção do manto foi iniciado pelas filhas de Maria. Anos depois, a missão foi assumida pela irmã Alexandra, da Congregação das Filhas de Sant’Ana. Com a sua morte, a ex-aluna interna do Colégio Gentil Bittencourt, Esther Paes França, foi encarregada de dar continuidade à tradição, tarefa que realizou com esmero ao longo de 19 anos. De suas mãos, saíram os mais belos mantos.
Corda
Com cerca de 400 metros de comprimento e aproximadamente 700 quilos, a corda é um dos mais importantes símbolos do Círio. Milhares de fiéis disputam espaço para tocá-la, com o objetivo de pagar promessas e prestar homenagens à Virgem de Nazaré. A corda é feita de puro sisal torcido, o que requer maior sacrifício físico e emocional, simbolizando a sustentação da fé na padroeira dos paraenses.
Introduzida no Círio em 1855, foi somente 30 anos depois, em 1885, que a corda começou a fazer parte oficialmente da procissão, substituindo os animais que puxavam a berlinda que carrega a imagem peregrina. Desde então, ela passou a ser o elo entre de Nossa Senhora e os fiéis, sendo que “ir na corda” é considerado um dos maiores atos de fé e devoção à Mãe de Jesus.
Velas ou Círios
A palavra “círio” vem do latim “Cereus”, que significa “vela grande”. No início, a procissão do Círio de Nazaré era realizada à noite, daí o uso dos círios ou velas. Hoje, as velas são símbolos da fé dos promesseiros, como são chamados os pagadores de promessas. Feitas em cera, com formatos que retratam as partes do corpo humano, elas são carregadas pelos fiéis como forma de agradecer à Nossa Senhora por uma graça alcançada. As velas também podem ter a forma de uma vara de cera da mesma altura do promesseiro.
Carros de promessas
Os carros de promessa que acompanham a procissão do Círio representam um importante símbolo da devoção Mariana. É neles que os promesseiros depositam os objetos que carregam durante a procissão e levam as crianças vestidas de anjos.
No total, o cortejo conta com 13 carros: o Carro de Plácido, a Barca da Guarda, a Barca Nova, o Cesto de promessas, a Barca com Velas, a Barca Portuguesa, a Barca com Remos, o Carro Dom Fuas, o Carro da Sagrada Família, além dos quatro Carros dos Anjos.
Os anjos
Vestir crianças de anjos é uma herança portuguesa que está no Pará há 160 anos. Os anjos são símbolos da devoção católica e como forma de homenagem, em Belém crianças de todas as idades ganham asas durante o Círio para identificar a realização de um desejo. Tamanha gratidão também ajuda a despertar a fé em Nossa Senhora de Nazaré.
Com sua presença que se destaca em meio à multidão de fiéis, os anjos auxiliam os romeiros movidos pelo espírito de solidariedade e também representam a prova viva de verdadeiros milagres, atribuídos a eles por quem acredita e tem fé.
Cartazes
Uma das tradições mais antigas e conhecidas do Círio adotada é até hoje por famílias, empresas e órgãos paraenses é a de fixar cartazes nas portas de casas e escritórios para homenagear Nossa Senhora de Nazaré. O primeiro Cartaz de divulgação do Círio foi confeccionado em Portugal, no ano de 1826.
Hinos
“Vós Sois o Lírio Mimoso” é considerado o hino oficial do Círio de Nazaré. Composto em 1909 pelo poeta maranhense Euclides Farias, posteriormente, foi acrescido de um estribilho – escrito pelo advogado Aldebaro Klautau – que cita o nome da Senhora de Nazaré. O hino “Virgem de Nazaré” é, originalmente, um poema de autoria da poetisa paraense Ermelinda de Almeida, que por volta dos anos 60 foi musicado pelo Pe. Vitalino Vari. “Maria de Nazaré” tem letra e música do sacerdote mineiro Pe. José Fernandes de Oliveira (Pe. Zezinho) e foi composto em 1975. “Nossa Senhora da Berlinda” tem letra e música do Pe. Antônio Maria Borges e foi composta em 1987.
Entre os demais hinos estão:
“Virgem de Nazaré”: a música nasceu originalmente de um poema de autoria da poetisa paraense Ermelinda de Almeida, que por volta dos anos 60 foi musicado por Padre Vitalino Vari;
“Maria de Nazaré”: a canção tem letra e música do sacerdote mineiro Padre José Fernandes de Oliveira (Zezinho) e foi composta em 1975;
“Senhora da Berlinda”: a música tem letra e música de Padre Antônio Maria Borges e foi composta em 1987;
“Dá-nos a bênção”: faz parte do cancioneiro popular religioso do Brasil e teve sua letra adaptada citando o nome de Nossa Senhora de Nazaré.
Objetos de promessa
Olhando para a multidão de romeiros, vários elementos se destacam nas mãos ou sobre as cabeças dos fiéis. São os objetos de promessa, levados pelos devotos como sinal do agradecimento pelas graças recebidas pela intercessão de Nossa Senhora. Os mais comuns são as velas e objetos feitos em cera, além de tijolos, miniaturas de barcos e casas, além de réplicas da berlinda e de imagens de Nossa Senhora de Nazaré. Há também outros elementos inusitados como livros, carros de brinquedos e cruzes que demonstram a gratidão do povo diante do atendimento aos apelos direcionados à Maria, para que ela os alcance diante de Deus.
Brinquedos de miriti
Confeccionados a partir da fibra leve da palmeira também conhecida como buriti, chamada de isopor da Amazônia, os brinquedos de miriti são um dos mais graciosos símbolos do Círio. Usando ferramentas rústicas, os artistas entalham a matéria-prima vem dos braços da planta, transformando-as em barcos, bonecos, cobras, jacarés, pássaros, rádios, televisões e outros objetos coloridos. Durante os dias do Círio, é possível encontrar os brinquedos pelas ruas de Belém, vendidos em girândolas - uma espécie de cruz com vários braços, também feita de miriti.
Almoço do Círio
Considerado o “Natal do Paraense”, o chamado Almoço do Círio é um momento especial de confraternização para as famílias do Pará. É no mês de outubro que os paraenses que vivem em outras cidades, estados e até mesmo países retornam a Belém para esse grande encontro anual, que representa um momento de unidade e celebração. O cardápio tradicional é composto por iguarias que dão sabor e perfume especial à comemoração, como o pato no tucupi e a maniçoba. Já nos primeiros dias do mês, feiras livres e centro comerciais, especialmente o Mercado Ver-o-Peso, ficam lotados de pessoas em busca dos ingredientes para o almoço. O cheiro da maniçoba sendo preparada toma conta de toda a cidade, antecipando o clima de festa.
FOTO: Agência Pará de Notícias
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